Belíssima matéria da jornalista Gabriela Carelli para a revista VEJA sobre a questão Armas de Brinquedo versus Violência Infantil. Para ler, guardar e distribuir ao familiares e amigos.
Confira abaixo alguns trechos:
O pedido brota implacável, em forma de súplica, muxoxo e sorriso, choro talvez: “Pai, mãe, quero um desses, o meu amigo tem!”. O mais recente fenômeno infantil, no topo da lista de desejos de brinquedos de nove entre dez meninos (e de algumas meninas também), não é tão novo assim. É uma arma de mentirinha, daquelas que os garotos adoram empunhar quando se transportam para o mundo da fantasia e assumem o papel do mocinho ou do vilão, dos alemães e seus canhões, em histórias cheias de heróis, princesas a ser resgatadas, dragões e monstros espaciais. Ou simplesmente querem atormentar e acertar em cheio o irmão mais novo, ou o priminho abusado. A arma em questão é um dos trinta modelos de lançadores de projéteis e dardos de espuma fabricados pela americana Hasbro, onipresentes também no Brasil. A empresa não revela quantas unidades vendeu desde que os artefatos caíram no gosto de crianças de 5 a 12 anos. O faturamento global do produto, de 410 milhões de dólares em 2011, autoriza um cálculo: se os ganhos da fábrica de brinquedos dependessem exclusivamente da venda dos modelos mais caros, em torno de 200 dólares, teria sido comercializado, em doze meses, um arsenal suficiente para armar 2 milhões de guris, o equivalente a uma vez e meia o contingente do Exército, da Marinha e da Aeronáutica dos Estados Unidos juntos.
Os lançadores – modo politicamente correto e mais moderno de chamar as armas – nem de longe lembram os revólveres de metal que fizeram a alegria da meninada do passado, alimentados por espoleta. São coloridos, modernosos e foram desenhados para não se parecer em nada com algo bélico, tanto na forma quanto no conceito. Têm mecanismos de ar comprimido, baterias, e podem lançar até três dardos por segundo. Tudo sem ferir ninguém. No entanto, em um mundo onde as ideias de correção reinam quase absolutas e as crianças não podem mais atirar o pau no gato, porque isso não se faz (como prega a versão certinha do clássico do cancioneiro infantil Atirei o Pau no Gato), o grau de periculosidade de um brinquedo importa menos do que as atitudes que ele seria capaz de incitar. Ter filho em casa mirando um alvo qualquer com tamanha monstruosidade em mãos é percebido pela patrulha da moral e dos bons costumes como irresponsabilidade de pais ausentes, egoístas, descompromissados com o futuro da cria e, claro, como não poderia deixar de ser, do planeta. Afinal, dita o senso comum, arma é arma; e violência gera violência.
Brincadeiras com armas existem desde sempre. Estudos antropológicos mostraram que, tanto em sociedades tribais quanto em países de Primeiro Mundo, nas mais variadas culturas, as crianças sempre enfrentaram e derrotaram oponentes enormes e furiosos com seus superpoderes em duelos imaginários do bem contra o mal. “As narrativas são uma espécie de treinamento para lidar com as vicissitudes da vida”, escreveu o psicólogo americano Jerome Bruner, da Universidade Harvard, um dos mais notáveis do século XX. Brincar com armas, afirmam os estudiosos do universo infantil, é uma forma de as crianças se sentirem fortes e confiantes para enfrentar os desafios reais e as sucessivas frustrações do longo e penoso crescimento físico e emocional. “A infância não é o período tranquilo e prazeroso que nós, adultos, gostamos de achar que é”, diz o psicólogo americano Gerard Jones no livro Brincando de Matar Monstros. “Muitas crianças são submetidas a episódios dolorosos, como morte dos pais, divórcio, doenças, mas mesmo aquelas que vivem sem atravessar essas experiências ruins deparam todos os dias com a condição de serem pequenas e sem poder.” As revelações sobre a influência da genética no comportamento e uma série de outros achados científicos, aliados ao bom-senso, têm alterado de forma positiva a maneira pela qual as pessoas enxergam o mundo. Um bom assunto para os pais discutirem quando os monstrinhos – ou seriam anjos? – estiverem dormindo.
Confira a íntegra no site de VEJA, clicando aqui.
Leia também: As crianças e o Tiro Esportivo
2 comentários:
Eu, como mãe coruja, sempre fui meio contra esse tipo de brinquedo. Mas pesquisei bastante depois de tanto meu filho querer e pedir e cheguei a conclusão que isso é estimular a criatividade e imaginação. Não é esse tipo de brinquedo que vai tornar nossos filhos mais agressivos e violentos.
Comprei pra ele essa Nerf online e foi ótimo, nunca vi ele me agradecer tanto, kkkk
http://primeirostiros.blogspot.com.br/2012/10/arma-de-brinquedo-nao-deve-preocupar-os-pais.html
Bjos e adorei o post!
Ana Luiza, você está certíssima. O que define a personalidade e o caráter de nossas crianças e adolescentes é a educação e a disciplina que damos a elas. Um brinquedo qualquer, isoladamente, não é capaz de transformar a criança em uma pessoa violenta.
Agradeço o seu comentário e convido-a a repassar o link deste artigo para outros pais e mães preocupados, para que possamos alimentar essa saudável discussão com argumentos sólidos e não com ideologia barata.
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